terça-feira, 15 de julho de 2008

Dráuzio de Almeida, o último dos alfaiates

Ele conta como é ser um alfaiate nos dias atuais e no que se resumiu um trabalho considerado status do passado

Alfaiate: Uma profissão em vias de extinção


Por Cíntia Ferreira


Para Dráuzio de Almeida, 84 anos, ser alfaiate é mais do que uma mera profissão; é uma tradição. Há 72 anos ele atua nessa área. Hoje conta com alegria como tem orgulho de ser o único alfaiate que restou em Cambuí. O ofício que aprendeu com seu pai quando ainda era criança fez com que Dráuzio sobrevivesse ao longo desse tempo e ainda pagasse os estudos de seus três filhos.

A profissão de alfaiate permaneceu no auge por várias décadas, mas hoje se encontra em processo de extinção devido às novas profissões que foram surgindo e a tecnologia das máquinas de costura. Dráuzio diz que, felizmente, nunca lhe faltou serviço. Até hoje tem clientes – alguns deles conquistados 40 anos atrás. Apesar de não trabalhar tanto quanto antes, afirma que, para ele, todos os dias são dias de serviço. Nunca faltou um dia. De domingo a domingo, fica em sua alfaiataria produzindo e consertando peças de seus fregueses.

Dráuzio ajudou seu pai dos 12 aos 20 anos de idade, quando se casou e começou a trabalhar sozinho. Na época, havia aproximadamente oito alfaiates em Cambuí e a demanda era tão grande que Dráuzio teve de contratar ajudantes. Mas, com o passar dos anos, quem restou foi apenas ele. “Cheguei a ter cinco oficiais trabalhando comigo, hoje trabalho sozinho”.

O mercado de trabalho não mais oferece espaço para a profissão de Dráuzio. As pessoas não se interessam mais em seguir essa carreira. A procura pelos serviços da alfaiataria caiu muito devido às indústrias que foram surgindo e substituindo o trabalho deles. Os alfaiates que ainda restam no mundo são os que, como Dráuzio, aprenderam a profissão ainda na infância. “Já tive cinco aprendizes, mas agora não tem mais ninguém que queira aprender”, comenta.

A comodidade de comprar um terno pronto contribuiu para o processo de extinção das alfaiatarias. Hoje, os serviços dos alfaiates não são mais os mesmos. Segundo Dráuzio, hoje em dia os afazeres mais comuns são consertos de peças e barras de calças. A fabricação de ternos é mais rara hoje em dia. Para ele, o mais importante é ver a satisfação do cliente. “Fico tão satisfeito quando entrego um terno, a pessoa se olha no espelho e gosta. Esse é o meu maior prazer. Graças a Deus, todos os ternos que fiz deram certo”.

Hoje Dráuzio é aposentado e, segundo ele, não há mais necessidade de trabalhar. Mas ele diz que, enquanto tiver saúde, vai continuar trabalhando. “Faço por gostar da profissão. Com a saúde que tenho, ficar de braços cruzados não dá. Cristo não morreu de braços cruzados, e sim de braços abertos. Quero continuar, para que eu possa viver a minha vida sem problema. Com saúde, o que mais me agrada é o serviço”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela participação!