quarta-feira, 8 de abril de 2009

“Indígenas foram os primeiros astrônomos brasileiros”, afirma Germano

Por Cíntia Ferreira*
*Colaborou Jonas Costa



Foi realizada no último domingo, 5, uma palestra sobre Arqueoastronomia Indígena ás 19 h no Teatro do Paço Municipal em Cambuí. Ministrada pelo professor da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Germano Bruno Afonso. De acordo com Germano, o observatório solar indígena (gnômon) é o mais antigo instrumento de astronomia da história da humanidade.

A palestra foi realizada através do Clube de Astronomia e Cultura de Cambuí. Sessenta e seis pessoas estiveram presentes. Após a apresentação, um Planetário foi montado no Clube Literário e Recreativo de Cambuí, onde os presentes puderam observar um céu virtual onde foram indicadas algumas constelações indígenas.

Oficialmente, há 88 constelações. Mas, nos cálculos dos índios, elas são mais de 100. A maioria representa animais, como a ema, o veado campeiro e o colibri. Germano explica que as constelações indígenas são formadas por estrelas e manchas da Via-Láctea. O professor diz que o exercício de ligar estrelas e manchas é semelhante ao de interpretar os formatos das nuvens.

O professor Germano conta que cada constelação encontra explicação na mitologia. A constelação da ema, por exemplo, fica ‘pendurada’ no Cruzeiro do Sul. Os índios acreditam que, se ema não tivesse esse ponto de apoio, desceria à Terra, beberia toda a água e geraria seca e fome.

Segundo Germano o frade capuchinho francês Claude d’Abbeville conheceu os tupinambás do Maranhão e relatou em textos que esses índios percebiam a influência da Lua nas marés. O cientista inglês Isaac Newton só registraria a mesma tese 73 anos depois. Já o astrônomo italiano Galileu Galilei dizia que não há ligação entre Lua e marés.

Para os tembés da Amazônia, a pororoca é conseqüência de um relacionamento entre uma índia e um boto. O animal teria engravidado a mulher, dando origem a três botos. Nas noites de Lua cheia ou nova, os três filhos percorriam as águas para visitar a mãe, o que provocaria as ondas conhecidas como pororoca.

O jornalista Ulisses Capozzoli, mestre em Ciências pela USP e editor de Scientific American Brasil esteve presente durante a palestra e comentou que “as pessoas não estão habituadas aos valores do Brasil”. Ele salientou que ao menos 111 línguas são faladas no país e muitas delas correm risco de extinção. Ulisses apontou a falta de pesquisadores como maior obstáculo ao resgate da cultura indígena.

Germano lamentou que “uma coisa da nossa cultura seja novidade”. Disse que tem desenvolvido vários tipos de atividades para divulgar os conhecimentos astronômicos dos povos nativos do Brasil: “Temos usado a educação formal e a não-formal. Dou aulas em escolas indígenas, faço palestras, escrevo artigos”. O professor revelou que os pesquisadores estrangeiros têm mais facilidade em ter acesso às terras ocupadas por índios.

Este ano será realizada pelo Clube de Astronomia e Cultura uma série de palestras por ocasião do Ano Internacional da Astronomia. Já está agendada para os dias 1º e 2 de maio duas palestras com Bernardo Riedel que vai falar sobre a história da astronomia e explicar como se constrói um observatório. Uma das palestras tem possibilidade de acontecer em Córrego do Bom Jesus.

Um comentário:

  1. Ola Cintia...
    Meu nome é Quelby sou de Senador Amaral, gostei deste seu post, parabens....

    Tenho uma pergunta, você conhece o clube de astronomia de cambui? se sim, tem algum site ou alguma maneira de fazer parte? que eu quero muito....

    Obrigado.

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