quarta-feira, 8 de abril de 2009

Provedor fala sobre a atual situação do hospital de Cambuí

Cíntia Ferreira

O provedor do Hospital Ana Moreira Salles Túlio José Borges Pereira, falou à Gazeta do Vale sobre a atual situação do hospital e dos atendimentos. Também esclareceu questões sobre as dívidas da entidade e advertiu sobre como a população cambuiense pode ajudar a instituição.

Gazeta do Vale - Qual a atual situação do hospital hoje?
Túlio - Melhorou muito do início da nossa gestão até os dias de hoje. Pagamos em dia os funcionários, fornecedores, médicos do corpo clínico, médicos plantonistas, prestadores de serviços, impostos, enfim, levamos em dia as nossas contas além de estarmos pagando dívidas de gestões anteriores. Temos mais médicos no hospital hoje, estamos pagando o plantão à distância, reformamos vários setores do hospital, enfim, diria que a situação é de normalidade.

Gazeta do Vale -
O que tem sido feito para sanar os problemas questionados pelos usuários como falta de atendimento e a demora?
Túlio - Não existe falta de atendimento. Todos são atendidos ou encaminhados conforme o caso. O hospital é referência para especialidades básicas e de médias complexidades, sendo que alguns casos precisam ser transferidos para outras unidades de saúde. Às vezes, quando há demora no Pronto Atendimento, é porque tem algum caso de urgência ou emergência na frente. As pessoas precisam entender que se tenho uma consulta particular com hora marcada, às vezes, espero uma ou duas horas para ser atendido. Aconteceu comigo e eu soube esperar. Pergunta para quem tem convênio se é atendido no dia e na hora desejada, enfim é próprio do sistema de saúde. Agora falando do Pronto Atendimento do nosso hospital, que é para os casos de urgência e emergência, que tem prioridade sobre os demais casos, somente 25% das pessoas se enquadram nesta situação, os outros 75% não. São casos para os Programas Saúde da Fámilia (PSF) ou os ambulatórios das Prefeituras (atendemos outras cidades também). Algumas pessoas acham ruim por não se enquadrarem no perfil de risco e serem triados, daí o descontentamento, que é um dos motivos de críticas. No mês de fevereiro tivemos a primeira amostragem da triagem, onde 88,26% das pessoas afirmaram procurar o hospital pela certeza de ser atendido e 78,24% disseram não saber onde procurar atendimento, por isso vão ao hospital. Ora, vamos procurar o hospital se estivermos realmente precisando, pois quem não está nesta situação estará tumultuando e prejudicando quem realmente precisa. O hospital, por acordo com a Prefeitura de Cambuí, possui somente ambulatório de ortopedia e oftalmologia que atendem em determinados dias, sendo que os outros ambulatórios são de responsabilidade das Prefeituras e ficam nas respectivas Policlínicas ou Postos de Saúde. Quando estes ambulatórios atendem a demanda da população, a tendência é diminuir a procura por médico no hospital. E não podemos esquecer que ambulatório é uma consulta onde o médico está tratando o paciente em uma situação que pode ser agendada. Pronto atendimento é para os casos de urgência e emergência, portanto atestado médico, ressaca, etc, não se enquadram nesta situação.

Gazeta do Vale - O hospital hoje possui alguma dívida?
Túlio – Sim. Com o Governo Federal (INSS, FGTS, PIS e Imposto de Renda), cujos valores chegavam a quase R$ 1 milhão e parcelamos para pagar em 20 anos. Renegociamos com fornecedores, fizemos acordos judiciais e trabalhistas, sendo que ao longo destes três anos já quitamos quase 500 mil reais em dívidas. Estamos pagando outros parcelamentos e ainda faltam aproximadamente R$ 60 mil reais que em breve entrarão em negociação. É importante ressaltar que estamos pagando dívidas que herdamos sem comprometer os compromissos do dia a dia do hospital. A dívida do hospital está sendo totalmente equacionada, de forma que esperamos que em dois ou três meses possamos solicitar a baixa de todos os títulos protestados em cartório. Nesta gestão toda a despesa que contraímos ou dívida renegociada é lastreada em capacidade de pagamento e a próxima gestão, que se iniciará no segundo semestre, poderá continuar honrando estes compromissos de curto, médio e longo prazo, pois terá caixa para isso.

Gazeta do Vale - Quais os projetos que existem hoje para o hospital?
Túlio - De imediato a reforma da maternidade e da lavanderia, além da compra de alguns equipamentos que são extremamente necessários.

Gazeta do Vale - Como está a situação da maternidade hoje?
Túlio - O projeto de reforma está pronto e esperamos em breve captar recursos para iniciá-la. Enquanto isso, as gestantes podem procurar o hospital, pois estamos realizando os partos normalmente. Somente na falta do pediatra, que deve estar presente no nascimento da criança, é que somos obrigados a transferir a gestante.

Gazeta do Vale -
Quantos médicos atendem hoje no hospital? Este número é suficiente para atender a população?
Túlio - No corpo clínico são vinte e cinco médicos e no pronto atendimento temos dois médicos plantonistas durante o dia e um a noite. Sempre iremos precisar de mais médicos, pois não é fácil conseguir fechar a escala de plantão para o pronto atendimento todo o mês. Outros hospitais da região passam pelas mesmas dificuldades. Queremos também trazer médicos de outras especialidades, por exemplo, um neurologista ou ainda montar uma unidade cardiológica semi-intensiva. Ao sanear as contas do hospital estamos trabalhando para isso acontecer. Considero que a situação do hospital de Cambuí é melhor que muitos hospitais de cidades de porte semelhante. Não podemos comparar com Bragança Paulista ou Pouso Alegre que possuem faculdades de medicina, portanto são hospitais escola, podem ter uma maior quantidade de profissionais além de muitas outras especialidades. São considerados hospitais regionais e recebem recursos compatíveis com o seu porte.

Gazeta do Vale - Quantas pessoas, em média, passam diariamente pelo hospital?
Túlio - Fazendo pela média do mês que são três mil e quatrocentas pessoas, então temos cento e treze atendimentos por dia.

Gazeta do Vale - Como o hospital se mantém? Quais as fontes de renda que ele possui?
Túlio - O hospital recebe recursos dos SUS que utilizamos para pagar os colaboradores, despesas administrativas como luz, telefone, impostos, além da compra de equipamentos, serviços e medicamentos. A Prefeitura de Cambuí repassa os recursos para o pagamento dos plantonistas do pronto atendimento além do plantão à distância, que são os médicos do corpo clínico que ficam de sobreaviso. Recebemos também uma quantia mensal de Senador Amaral e Córrego do Bom Jesus, e que ajuda muito em outras despesas como remédios ou mesmo o pagamento de médicos. Além disso, recebemos doações na conta de luz, doações de material, alimentos e por fim os atendimentos particulares e convênios que vem completar a receita.

Gazeta do Vale - Quais as especialidades médicas que o hospital possui hoje?
Túlio - Clínica Médica, Ortopedia, Anestesia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Cirurgia.

Gazeta do Vale - O que a população cambuiense poderia fazer para ajudar o hospital?
Túlio - A maior ajuda seria procurar o hospital somente nos casos de urgência e emergência. Os outros casos mais simples devem procurar os ambulatórios das Prefeituras ou os PSF mantidos pelas Prefeituras. Estatisticamente, conforme preconizado pelo SUS, deveríamos estar atendendo no máximo trinta pessoas por dia, estamos atendendo cento e treze. Este excedente tão alto prejudica as pessoas que realmente precisam. Acabam gerando filas e estressando as pessoas e que acabam ficando com uma impressão errada do hospital. Não estou dizendo que não existem falhas, elas existem sim e para quem se sentiu prejudicado ou mal atendido, temos uma ouvidoria onde se deve fazer a reclamação, que quando procedente é tomada as devidas providências. Mas as falhas diante da quantidade de atendimentos realizados são quantitativamente poucas, porém uma que seja, por se tratar de saúde deve ser levado muito a sério e corrigida para não ocorrer novamente.
Muitas pessoas têm ajudado o hospital, o que demonstra confiança em nossa administração, portanto em nome de toda a equipe, os meus sinceros agradecimentos, pois graças à confiança depositada é que temos conseguido vencer os obstáculos. Acredito que o hospital precisa recuperar o tempo perdido, olhando prá frente e tendo projeto, rumo e equilíbrio para lidar com esta questão chamada saúde e que todos nós estamos sujeitos a precisar de atendimento a qualquer hora. Cuidemos do hospital com muito carinho, pois ele é de todos nós. Obrigado pela oportunidade de poder esclarecer estas questões, com perguntas muito oportunas que só poderia partir de um jornal que tem a exata noção da seriedade do trabalho desenvolvido pelo hospital de Cambuí.

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